domingo, 17 de julho de 2011


Empresas que trabalham com o setor de petróleo e gás sofrem com a falta de mão de obra especializada


Empresas que trabalham com o setor de petróleo e gás sofrem com a falta de mão de obra especializada

Inspetor de dutos terrestres N1, por medição de espessura, por partícula magnética, por ultra-som, plataformista, soldador eletrodo revestido. Profissões praticamente desconhecidas da grande maioria da população, mas que estão sendo muito requisitadas e sendo de extrema importância e valorização no setor de petróleo e gás. Elas são apenas algumas das 185 categorias profissionais distintas do meio petrolífero de nível fundamental, médio e superior. De 2006 a 2010, aproximadamente 78 mil profissionais se qualificaram em cursos gratuitos coordenados pelo Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) em 17 estados brasileiros. Entre eles, o Rio de Janeiro, que concentra parte importante dos investimentos e mão de obra.

A coordenação da Prominp informa que a meta é de até 2014 investir mais  R$ 557 milhões na qualificação de um novo contingente de 212 mil pessoas em categorias profissionais diferenciadas, todas voltadas para o setor de petróleo e gás natural. Deste total, cerca de 28 mil novos alunos foram aprovados no quinto ciclo de seleção pública, realizado em novembro de 2010 em 13 estados brasileiros, e serão convocados de forma escalonada, até o final deste ano, para matrícula nas respectivas instituições de ensino.

Formação – Especialistas avaliam que os cursos oferecidos no setor dão quase 100% de empregabilidade. Na Unidade Niterói do Senai, que fica no Barreto, são oferecidos o curso técnico em Petróleo e Gás e outros cinco relacionados ao setor, como técnicas básicas de instrumentação; controladores lógicos programáveis; técnico em mecânica, em segurança do trabalho e em eletrotécnica.

“Nossa unidade se tornou um centro de formação profissional para petróleo e gás e indústria naval, tamanha é a demanda por esses cursos. Temos uma média de 500 formandos por ano e quase todos são aproveitados depois que se formam”, afirma Jorge Rezende, gerente executivo do Senai-Niterói.

“É importante ressaltar que a mão de obra indireta de um empreendimento da magnitude da Petrobras é muito maior. Em média a proporção é de cinco indiretos para cada um direto”, completa Rezende.

O diretor de petroquímica e afins do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo do Estado do Rio de Janeiro (Sindipetro), José Maria Nascimento, compartilha a mesma projeção.

“Dos cerca de 200 mil empregados no Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), por exemplo, 40 mil são da Petrobras e 160 são do setor privado”, diz.

Nascimento argumenta, ainda, que todas as áreas da engenharia estão com demanda neste setor.
“Com destaque para o engenheiro químico e o de petróleo e gás”, conclui.

De acordo com Renata Ribeiro, gerente de cursos do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) a carência no setor é generalizada.

“É uma área que exige profissionais cada vez mais qualificados. Por isso que não é simples acabar com a carência de mão de obra no setor de petróleo e gás”, comenta.

Procura – A gerente do IBP informa que o instituto está com cinco cursos de pós-graduação na área de petróleo e gás, entre eles, Gestão nos Negócios de Exploração e Produção de Petróleo e Gás (400 horas); Gestão de SMS na Indústria de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (400 horas) e Engenharia de Petróleo – Ênfase em Construção de Poços (500 horas).

“O IBP tem mais de 100 temas de cursos relacionados a petróleo e gás e há três anos criamos os cursos de pós-graduação para atender uma demanda por um setor mais qualificado. O número de alunos cresceu muito depois que abrimos os cursos de pós”, afirma Renata, disponibilizando o site www.ibp.org.br para mais informações.

Samuel Pinheiro, diretor da Petrocenter, que oferece os cursos de técnico em petróleo e gás e segurança do trabalho, afirma que a carência em toda a cadeia de suprimentos para a exploração e produção do petróleo.

“Neste caminho estamos falando de setores logísticos, da área de armazenamento, distribuição, fornecimento de material industrial. Fornecedores de bens e serviços para a produção de plataformas, navios, tubulações indústrias e maquinário específico para a área de petróleo e gás”.

Altas remunerações atraem novos profissionais

Samuel Pinheiro afirma, ainda, que a indústria de petróleo e gás de forma global é rentável por si só. Segundo ele, o que faz a diferença em termos de remuneração são a experiência e a expertise do segmento que atua.

“Um exemplo que podemos dar é que neste segmento um operador que tenha qualificação valiosa, o que implica em superioridade e avanço para a empresa, pode ganhar mais que um Gestor com MBA do setor administrativo”, exemplifica o diretor da Petrocenter, na qual todos os nossos cursos oferecidos são bilíngues.

Já o diretor-executivo do IWC Cursos, André Lincoln, avalia que os salários no setor são bem atrativos. Com uma média que pode variar entre R$ 2 mil e R$ 12 mil.

“Um soldador, por exemplo, ganha acima de R$ 2 mil mais benefícios, entre eles, plano de saúde que inclui assistência odontológica. Na área de inspeção, que tem diversas categorias, os salários variam de R$ 4mil a R$ 12 mil”, conta.

São 10 os cursos oferecidos pelo IWC no controle de qualidade para a área de soldagem. Sete na área de inspeção e três no setor de soldagem.

“Os de inspeção requerem ao menos o ensino médio. Já o de soldagem não é exigido grau de escolaridade”, disse diretor do IWC, que tem uma média de mil formandos por ano.

Os cursos são Básico de formação de inspetor de qualidade em soldagem; inspetor de dutos terrestres N1; inspetor de soldagem N1; por ensaio visual de soldagem;  por líquido penetrante; por medição de espessura; por partícula magnética; soldador arame tubular; soldador eletrodo revestido (ER) – 6 G e soldador TIG – 6 G.

Idioma – Paulo Macedo, diretor do Flash! Idiomas, que atende uma média de 50 alunos do ramo de petróleo e gás por ano, o inglês é fundamental para alguns setores.

“Quando pensamos no ramo petrolífero, a primeira empresa que nos vem à cabeça é a Petrobras. O que não deve ser esquecido é que a empresa, apesar de ser brasileira, possui inúmeros contratos com empresas estrangeiras, o que leva à necessidade do bom domínio do inglês”, avalia Macedo.

“O inglês é a segunda língua mais exigida. Ao ponto de, hoje em dia, não ser considerado mais um diferencial. Saber inglês hoje é imprescindível. Em seguida, temos o espanhol e o francês. Muitas empresas sequer consideram o currículo de um candidato que não saiba inglês”.

Investimento – O Plano de Negócios 2010/2014 da Petrobras prevê investimentos da ordem de US$ 42,5 bilhões anuais. Desde 2001, mais de 32 mil empregados ingressaram na Companhia por processo seletivo público. Atualmente a Petrobras possui cerca de 56 mil empregados e a previsão é chegar a mais de 64 mil até 2013.

A Petrobras informa, através de sua assessoria de imprensa, que o seu quadro de carreiras é amplo e que atualmente as carreiras mais promissoras na empresa são Engenharia (todas as formações), Geologia, Geofísica e profissões técnicas de nível médio (Manutenção, Mecânica, Inspetor de Equipamentos, Elétrica, Eletrônica e Química), entre outras.

Mudança – O inspetor de soldagem Anderson Luiz Guimarães, de 26 anos, há quatro anos decidiu investir na área de petróleo e gás e disse não ter se arrependido. Hoje ele não ganha menos de R$ 8 mil.

“Nessa área trabalhamos mais por contratos com tempo determinado. Nesses quatro anos já passei por umas dez empresas prestadoras de serviços da Petrobras. Já morei em vários lugares do Brasil por conta do trabalho. Já tive contrato de apenas dois meses, mas também já tive de dois anos. Apesar desta aparente instabilidade, nunca fiquei parado. Antes de completar o contrato já articulamos um outro”, ensina.

“Lógico que posso optar por contratos mais longos e mais próximos de casa. Contudo, estou optando pelos mais rentáveis que exigem mais disponibilidade. Inclusive, no próximo mês, vou para Macaé para um trabalho de nove meses”, informa.

Guimarães lembra que trabalhava como auxiliar administrativo em um escritório de contabilidade quando decidiu investir na área de petróleo e gás.

“Resolvi seguir o conselho de alguns amigos que estavam na área. Hoje já fiz diversos cursos na área”. 
Ele afirma ainda que seu próximo passo é fazer o curso de Inspeção por Ultrassom.

“Esse é um dos cursos dos diversos métodos de END (Ensaios não destrutivos) que quero fazer. São cursos mais específicos que vão dar um diferencial ao meu currículo”, indica.

Vinícius Rodrigues da Rosa, de 20, é um exemplo de quem perseverou para conseguir uma boa colocação na área de petróleo e gás. Ele assumiu na semana passada o cargo de técnico de operações júnior da Petrobras depois de vender salgado em porta de escola para pagar a passagem para frequentar o curso. No início de 2009 ele deixou sua terra natal, Teresópolis, para fazer o curso técnico em petróleo e gás do Senai-Niterói.

“Pagava minha passagem com a venda de salgados na porta do Senai. Com o diploma do curso fiz um concurso da Petrobras em fevereiro da qual passei em 34º lugar. Tomei posse no último dia 8 quando assinei a minha carta de admissão”, conta orgulhoso.

O jovem vai trabalhar na Bacia de Campos e ganhará mais de R$ 4 mil.

“Nos primeiros três meses devo fazer, aqui mesmo no Rio, os cursos de qualificação. Nesse período meu salário será de aproximadamente R$ 2,6 mil. Contudo, quando for trabalhar embarcado em plataforma minha remuneração deverá ser superior a R$ 4 mil”, disse Vinícius.

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